Aprender a aprender
Vivemos numa era muito desafiante. Quanto tanto se fala na ascensão da inteligência artificial e da perda de postos de trabalho (num futuro não tão longínquo), estaremos nós seres humanos preparados para este salto? A opinião generalizada dos especialistas no que toca a inteligência artificial é que a verdadeira vantagem do ser humano em relação a máquinas é a sua capacidade criativa. Como vamos então diferenciar-nos no futuro? Como iremos garantir os nossos postos de trabalho? Da mesma forma que existiram mudanças drásticas a nível de empregos aquando da passagem da revolução agrícola para a revolução industrial, o mesmo terá de acontecer na revolução digital. Se na era industrial imperavam a linearidade, previsibilidade e repetição, na era digital avizinham-se a não linearidade, complexidade e o imprevisível. Este tipo de ambiente vai exigir um nível bem mais elevado de profissionais, não basta entrar no mercado de trabalho e limitar-se a fazer o que pedem e achar que aprender continuamente ao longo da vida é algo apenas reservado a médicos e afins. A capacidade de adquirir novas competências ao longo do tempo é algo que todos os profissionais vão ter que dominar na perfeição. Infelizmente, a tecnologia está a tornar-nos cada vez mais preguiçosos e a fazer-nos utilizar cada vez menos o nosso cérebro. Senão vejamos, agora temos acesso a toda a informação no nosso smartphone, a necessidade de ter que memorizar informação praticamente desapareceu. Se queremos ir a algum lado que não conhecemos ligamos o GPS, se queremos fazer uma receita culinária vemos um vídeo no YouTube, se nos queremos lembrar do aniversário de alguém socorremo-nos do Facebook. Toda e qualquer necessidade de termos de guardar informação no nosso cérebro desapareceu. O mais grave, é que o nosso cérebro funciona de forma semelhante a um qualquer músculo (apesar de não ser um músculo), quanto menos o utilizamos menos desenvolvido se torna. Ora, se num futuro próximo temos os nossos empregos sob pressão, porque não nos preparamos para o que aí vem? Porque não nos diferenciamos e adquirimos capacidades que nos permitem mudar de emprego de uma forma simples, afinal, a capacidade de se adaptar será uma grande mais valia em tempos vindouros. Podemos então dizer que aprender novas competências é algo de extrema importância e em que todos deveríamos ser mestres. Este artigo visa dar algumas dicas no que diz respeito à aprendizagem de nova informação e novas capacidades. A divisão está estruturada em várias etapas, não tendo de seguir necessariamente a ordem pelo qual são apresentadas. Preparados?
Garantir foco
Apesar de parecer básico, garantir foco enquanto se está a aprender algo novo é algo que por vezes é esquecido. Sermos bombardeados com mil e uma distrações não vai ajudar a que a informação fique na nossa cabeça. Ações como desligar a TV e afastar o telemóvel são fundamentais para que consigamos estar 100% focados. Apesar de muitas pessoas afirmarem que são muito boas a fazer multitasking, está mais que provado que é uma estratégia perdedora. É impossível fazer duas coisas ao mesmo tempo, o que acontece é que saltamos de uma tarefa para outra, obtendo desperdício de cada vez que o fazemos. Assim, recomendo vivamente que te concentres em fazer apenas uma coisa de cada vez, e é algo que vai também fazer aumentar a tua capacidade de concentração. Ao absorver algo novo, devemos estar totalmente focados em aprender sobre esse tema, já que o nosso cérebro necessita de fazer um esforço muito maior quando se depara com algo que ainda não conhece. Só após alguma prática os novos conceitos passam a ser rotina, e o cérebro consegue processar essa informação com um dispêndio de energia mínimo.
Garantir o caminho mais curto entre a teoria e a prática
Este ponto é absolutamente fundamental. Apenas assimilamos informação ao colocar em prática o que aprendemos. Quero com isto dizer que o caminho entre a teoria e a prática deve ser o mais curto possível. É por isso que considero alguns modelos que se utilizam nas universidades fundamentalmente errados, já que, quando se entra no mercado de trabalho já se esqueceu de 90% do que se aprendeu. Uma forma mais interessante de ensinar é através de casos de estudo reais (ou simulados), já que não são mais que levar a prática para mais perto da teoria. Ao não utilizar aquilo que se aprende, a probabilidade de o esquecer em um ou dois dias é enorme. É por isso que por exemplo, quando se está a aprender uma nova língua, se deve de imediato começar a praticá-la, seja a escrever, ler ou falar. Apenas quando se opta por praticar podemos realmente ambicionar chegar a um nível aceitável numa determinada área. Se estás a aprender programação informática, pratica após aprenderes um conceito novo, se estás a aprender como liderar uma equipa, coloca em prática essas ações nos dias seguintes, se estás a aprender sobre metodologias de resolução de problemas, escolhe um problema pessoal/profissional e aplica-as e experimenta-as, só dessa forma saberás se é aplicável e só dessa forma as poderás dominar.
Saber em que áreas fazer drilldown
Drilldown consiste em escolher um conceito específico a aprender dentro de uma determinada área, e aprofundá-lo até o dominar por completo. Dou um exemplo fácil de entender. O Cristiano Ronaldo especializou-se na marcação de livres diretos, porque a dada altura decidiu fazer drilldown nas suas capacidades gerais de jogador e achou que deveria especializar-se na marcação desse tipo de livres. Com base nessa decisão, treinou bastante até chegar ao nível que todos sabemos hoje. Este tipo de mentalidade não se aplica apenas ao desporto, senão vejam, imaginem que têm noções gerais de finanças. Podem por exemplo a dada altura fazer o drilldown em técnicas de avaliação de projetos de investimento. Com base nessa decisão, há que aprender como se estrutura este ramo das finanças e aprender & praticar até ter um nível bastante bom. É possível depois optar por fazer drilldown noutras áreas ou especializar-se ainda mais, como por exemplo, investir na aprendizagem de técnicas de avaliação de projetos de investimento específicos da banca.
Utilizar estratégias de memorização
De nada adianta aprender se não conseguires reter a informação a longo prazo. É por isso que podes optar por utilizar algumas técnicas de memorização que certamente te vão ajudar a lembrares-te. A que recomendo é utilizares flashcards. Parece um nome muito pomposo, mas não passam de pequenos cartões (físicos ou virtuais), onde num dos lados colocas uma pergunta sobre algo que te queres lembrar, e do outro lado a resposta correta. Por exemplo, se precisas de te lembrar de quem foi o primeiro rei de Portugal, colocas na frente do cartão "Quem foi o primeiro rei de Portugal?", e no seu verso "D. Afonso Henriques". Estes cartões servem para fazer uso de uma técnica apelidada de spaced repetition. Esta técnica consiste em ir validando cartão a cartão se sabemos a resposta, e conforme acertamos ou falhamos as questões, necessitamos de os revisitar mais ou menos vezes. Está mais que provado que quando aprendemos algo, a velocidade com que o esquecemos é assombrosa. É por isso que é necessário revisitar tema após tema para garantir que a informação fica indefinitivamente no nosso cérebro. Fazer cartões físicos é algo que podes não estar disposto a realizar, motivo pelo qual as melhores opções hoje em dia são aplicações, como por exemplo o Anki, que está disponível tanto em Android como IOS. A App tem um algoritmo que sabe quando tem ou não de mostrar determinados cartões, já que é possível definir se nos lembramos perfeitamente do que é perguntado, ou se nos lembramos apenas vagamente ou nem nos lembramos. Com base nessas classificações, a App vai-nos ajudando a manter toda a informação nas nossas cabeças, já que de tempos a tempos nos obriga a lembrar e, portanto, a assimilar melhor a informação no nosso cérebro. Algumas pessoas separam os cartões pela peridiocidade com que têm que os rever, como por exemplo, diário, dia-sim dia-não, uma vez por semana, uma vez por cada duas semanas e mensalmente. As Apps fazem essa gestão de forma automática, daí a sua conveniência.
Recolher feedback
Para uma aprendizagem mais rápida e mais direcionada, deves sempre tentar recolher feedback sobre se estás ou não a ir na direção correta. É por isso que encontrares mentores que te consigam ajudar neste caminho é tão importante. Por exemplo, se o teu objetivo é seres um excelente jogador de ténis, a tua aprendizagem será mais rápida se tiveres alguém que te ajude a corrigir os erros que vais cometer pelo caminho. A prática inteligente é sempre superior a praticar muitas horas, mas mal. Quero com isto dizer que se o teu serviço de ténis tem por exemplo um problema na tua postura, de nada adianta praticar 8h com a postura errada. Será sempre mais produtivo praticares digamos, 4h com a postura correta, depois de alguém te corrigir e te indicar o caminho das pedras. O mesmo se aplica a qualquer outra aprendizagem. Se estou a aprender uma língua, não será melhor ter alguém que me diga se estou ou não a falar com a pronúncia acertada? É por isso que deves continuamente procurar feedback para ter a certeza que a tua aprendizagem é correta, e reforçar comportamentos positivos.
Aprender algo novo é tudo menos fácil. Existe sempre uma fase de desconforto em que se tem a sensação que não se está a progredir. Apenas com perseverança e persistência se consegue dar o pulo e ultrapassar essa fase menos boa, já que depois parece que tudo começa a fazer sentido de um dia para o outro. Estas técnicas podem-te ajudar a chegar lá mais facilmente e de forma mais rápida, se achas que te podem trazer valor, aproveita-as ao máximo!